terça-feira, 11 de maio de 2010

Eugênia Anna Santos ( Mãe Aninha- Ọbá Biyi )


Eugênia Anna Santos, Mãe Aninha, Ọbá Biyi, (Salvador, 13 de julho de 1879 — Salvador, 3 de janeiro de 1938) Iyalorixá, fundadora do terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador e no Rio de Janeiro.


Eugênia Anna Santos[1] nasceu no dia 13 de Julho de 1879, às dez horas da manhã, na rua dos Mares 76, em Salvador, Bahia. Filha de Sérgio José dos Santos (chamado em gurunsi Aniió), brasileiro, e Leonídia Maria da Conceição Santos (chamado em gurunsi Azambrió), brasileira. Não há informação sobre os avós paternos e maternos. Seu registro de nascimento fora efetuado pela própria Eugênia Anna Santos, no cartório do sub distrito do Paço, rua do Tingui 97, CEP 40040-380, Salvador, Bahia, no dia 7 de Junho de 1937.[2]

Foi iniciada na nação de Ketu em 1884, aproximadamente, pela iyalorixá Marcelina da Silva,[3] Obá Tossi, na rua dos Capitães, residência de Maria Júlia Figueiredo,[4] Omonikê. Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora, Oxum Muiwà, conta que depois da morte de Marcelina da Silva, Eugênia Anna Santos, fez santo Afonjá no Engenho Velho,[5] com Tia Teófila,[6]Bamboxê[7] e Tio Joaquim.[8] Indagada sobre essa segunda feitura no santo, Maria Bibiana do Espírito Santo afirmou que “isso tinha que ser feito, porque Xangô deu dois nomes na terra de Tapa, Ogodô e Afonjá”.

Fundou o Ilê Axé Opô Afonjá no Rio de Janeiro em 1895 e em Salvador em 1910. Em 1936, reinaugurou o Ilê Iyá,[9] instituiu o Corpor de Obá de Xangô (Ministros de Xangô) com Martiniano Eliseu do Bonfim,[10][11] lançou a pedra fundamental no novo barracão Ilê N'Lá e fundou a Sociedade Cruz Santa, no Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador. Em 1937, participou do II Congresso Afro-Brasileiro em Salvador, a convite do escritor e etnólogo Edison Carneiro. Influenciou Getúlio Vargas, na promulgação do Decreto-Lei 1.202, no qual ficava proibido o embargo sobre o exercício da religião do candomblé no Brasil - contou com a ajuda de Oswaldo Aranha, seu filho-de-santo e chefe da Casa Civil e do Ogan Jorge Manuel da Rocha.

Começou a mostrar-se doente em junho de 1936. Seu último barco, com suas últimas filhas-de-santo, saiu no dia 13 de dezembro de 1937. No dia 3 de janeiro de 1938, às quinze horas, ela faleceu - vítima de arteriosclerose, conforme atestado apresentado por seu médico Dr.Rafael Menezes -, na casa de Iyá no Ilê Axé Opô Afonjá. Às dezenove horas, o corpo foi transportado, em carro mortuário, do Ilê Axé Opô Afonjá para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no centro histórico de Salvador, Pelourinho, onde ficou exposto até as quinze horas do dia seguinte, quando saiu o cortejo fúnebre. No dia 4 de janeiro de 1938 foi sepultada no Cemitério da Quinta dos Lázaros, Irmandade de São Benedito, com todas as formalidades de praxe do candomblé e da religião católica. Então, seguiu-se o axexê no Ilê Axé Opô Afonjá. Em 3 de Janeiro de 1945, foi realizada a obrigação de Aku (ou obrigação dos sete anos), para o espírito de Eugênia Anna Santos, o último dos compromissos da Sociedade para que a sua Iyá Obá Biyi obtivesse luzes e descanso eterno. Eugênia Anna Santos repousa num mausoléu, oferecido pela Sociedade Cruz Santa Opô Afonjá, no Cemitério da Quinta dos Lázaros, Irmandade de São Benedito, Salvador, Bahia.

Eugenia Anna Santos , comprou a roça de São Gonçalo do Retiro em 1909 e lá fundou o Ilê Axé Opô Afonjá. Deoscóredes Maximiliano dos Santos , Mestre Didi, em seu livro História de Um Terreiro Nagô , escreve: [11]

"(...) Aninha Iyá Obá Biyi residia na Ladeira do Pelourinho n.77, junto à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde tinha posição de destaque, não só nas irmandades ali existentes como também na Igreja da Barroquinha. Foi quando, por ordem do seu eledá Xangô, comprou uma roça no alto de São Gonçalo do Retiro, onde organizou seu terreiro, fazendo uma grande casa para todos os orixás e as pessoas velhas que a acompanhavam, e realizando logo a inauguração do novo terreiro, denominado "Axé Opô Afonjá", com a iniciação de Agripina Souza, filha de Xangô. Agripina veio a ser a Iyalorixá do Axé Opô Afonjá do Rio de Janeiro, situado e funcionando em Coelho da Rocha, Axé que lhe foi dado pela velha Aninha e que é uma espécie de sucursal carioca do Axé Opô Afonjá, casa matriz de onde ele nasceu. No dia 27 de agosto de 1911, já com tudo mais ou menos organizado, foi feita a iniciação de Vevélha, filha de Oxun, e, em 7 de setembro, de Inezinha, filha de Oxalá, e de Faustina, filha de lansan. A essa altura, lyá Obá Biyi já havia iniciado por suas próprias mãos 23 pessoas (sem contar as que foram iniciadas em casas particulares, e outras dentro do Axé, cujos nomes não chegaram ao conhecimento público por motivo ignorado) e mais 20 homens, como Alabê, Axogun, Ogan, etc. Existia também grande quantidade de pessoas sem postos na casa mas que tomavam parte e acompanhavam todo o ritual do Axé. Daí, Iyá Obá Biyi, com sua boa vontade, seu espírito batalhador e a ajuda de todos que a acompanhavam, continuou a construir o Axé, fazendo casas nos assentos já existentes para Exu, para Oxalá, esta com um quarto para as Ayabá, para a Iemanjá denominada Ilê lyá, onde Mãe Aninha adorava Iyá n'ilê Grunci (a mãe da terra dos Grunci, na África), outra para Obaluaiyê, além da de Oxossi e da casa de Ilê Ibó Akú (casa de veneração aos mortos), que ficou situada perto da casa de Obaluaiyê, pelos lados de baixo da roça."

Em 1921, Eugenia Anna Santos foi para a casa de José Theodório Pimentel , Balé Xangô, [26] em Itaparica. Mãe Aninha era muito amiga da família Pimentel. José Theodório Pimentel ajudava Mãe Aninha desde os tempos da Ladeira da Praça. Essa viagem foi muito importante porque é a evidência de que Mãe Aninha fez a ponte entre o Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador e o culto aos Eguns em Itaparica e nessa casa fez a iniciação tanto de Mãe Senhora quanto de Mãe Ondina, filhas do mesmo barco, [27] suas sucessoras no Ilê Axé Opô Afonjá. Deoscóredes Maximiliano dos Santos , Mestre Didi, em seu livro História de Um Terreiro Nagô , escreve: [11]

"Em 1921, Iyá Obú Biyi , Aninha, foi para a casa de José Theodório Pimentel (Balé Xangô), em Itaparica, fazer a iniciação da filha do dono da casa, Ondina Valéria Pimentel, filha de Oxalá - mais tarde, Iyá Kekerê do Axé; de Senhora, filha de Xangô; de Filhinha, de Oxun; de Túlia, de Iemanjá, e de Vivi, de Obaluaiyê. Tirou esse barco de iyawôs com a ajuda de sua irmã lesse-orixá Fortunata de Oxossi (Dagan), mãe legítima de Silvânia, filha de Airá, a Iyámorô do Axé Opô Afonjá."

Mãe Aninha estava cercada de pessoas de sua confiança e sabia delegar. Em 1934, Mãe Senhora também já demonstrava grande espírito de liderança, conforme segue o relato de Deoscóredes Maximiliano dos Santos , Mestre Didi, em seu livro História de Um Terreiro Nagô : [11]

"Mesmo na ausência de Aninha, prosperava o Axé, dirigido por pessoas de sua confiança. Assim, em 1934, por ocasião das festas de ano das Águas de Oxalá, estando Iyá Obá Biyi no Rio, foi feita a remodelação de um barracão de palha que havia em frente a casa de Oxalá, e Senhora, a então Osi Dagan, mandou construir uma casa para Oxun, seu cledá, ao lado da casa de Oxossi, para que os festejos fossem realizados conforme o calendário.

Em junho de 1935 , Eugenia Anna Santos voltou do Rio de Janeiro para Salvador. Mandou desmanchar o barracão de palha em frente a casa de Oxalá para construir outro bem maior, mais acima, ao lado da atual porteira de acesso ao terreiro.
No dia 29 de junho de 1936, instituiu o Corpo de Obá (ou Ministros de Xangô), tradição só conservada na Bahia no Ilê Axé Opô Afonjá. Mestre Didi comenta: [11]

"O restabelecimento da antiga tradição dos Obás de Xangô veio dar ainda maior prestígio ao Opô Afonjá e demonstrar as qualidades e conhecimentos da Iyalorixá Aninha Iyá Obá Biyi."

No dia 8 de novembro de 1936, Mãe Aninha, Obá Biyi, fundou a Sociedade Cruz Santa no Ilê Axé Opô Afonjá.
Mãe Stella escreve sobre os tempos de Mãe Aninha : [18]

"Iyá Oba Biyi era muito zelosa com coisas de hierarquia e awo. Tinha um grupo de filhas-de-santo mais velhas, e umas tantas quantas senhoras idosas, as Àgba, responsáveis pela educação direta das filhas-de-santo. Depois da iniciação, mãe Aninha as deixava aos cuidados das velhas senhoras. Tia Catú-Ayrá Tolá, filha-de-santo de mãe Aninha, na força de seus noventa e dois anos, nos conta muitas histórias. Ai da filha-de-santo que resolvesse passar por cima da hierarquia, indo queixar-se diretamente à Mãe-de-Santo! Não tinha nem graça... O grupo de Àgba, a que me referi, tinha de educar as iniciadas. Se estas não se comportassem muito bem, a culpa era atribuída à incompetência das mestras. O professor responde pelos discípulos, não é assim mesmo? Daí o zelo das mais velhas em transmitir conhecimentos que tinham recebido de seus mais velhos, aos mais moços. Ninguém ia querer receber uma advertência da Mãe-de-Santo, tendo a satisfação de mostrar que davam conta do recado, sabiam das coisas! Se a Iyalòrisa entregava seu filho a uma Ojúbòna, para tomar conta, é que confiava naquela pessoa, sentindo-se, até, desmoralizada em caso de falhas da mãe-pequena do Iyawó. Por tal motivo, procurou preencher seu Egbé com os cargos inerentes a um Ase. Sendo ela mestra maior, orientou a todos com sua força de caráter e disciplina."

Marcos Santana oferece uma proposta de como estaria formada a hierarquia do Ilê Axé Opô Afonjá em 1938:[13]

1. Iyalorixá - Obá Biyi
2. Iyá Kekerê - Iwin Tonã
3. Iyá Dagã - Odé Gidê
4. Iyá Morô - Ayirá Bayi
5. Ossi Dagã - Oxum Muiywá
6. Otun Dagã - Maria Otun de Ossanhe[28]
7. Ajimuda - Ojeladê
8. Balé Xangô - Bamboxê, Essa Obiticô / José Teodoro Pimentel
9. Êssa Oburô - Obá Sañya
10. Assobá - Bopê Oiá
11. Iyá Egbé - Airá Tola
12. Oganlá - Ajagun Tundê
13. Olopndá - Vevelha
14. Sobaloju - Obá Kayodê

4. Últimos dias
Deoscóredes Maximiliano dos Santos , Mestre

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